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Meus pais, a primeira viagem internacional e o mundo

"Se Maomé não vai às montanhas, as montanhas vão a Maomé". Esse ditado fez bastante sentido para mim nos últimos dias. Entendam o porquê.


Até 2013, diria que as chances de ver meus pais fazendo uma viagem internacional era totalmente nula, mesmo eles já tendo feito várias viagens de avião pelo Brasil, eu os tendo convidado algumas vezes para ir à Argentina ou Chile ou mesmo eles tendo visto meu irmão e eu viajarmos bastante mundo afora.


Até então, o medo deles era maior do que a vontade de conhecer o novo. A descrença de que uma viagem internacional seria algo atingível nunca os havia feito pensar seriamente sobre o assunto.


Quando meu pai se aposentou e, ele e minha mãe se mudaram para Belo Horizonte, achamos que a nova vida seria ocupada por muitos passeios e viagens para tirar o atraso dos mais de trinta anos de abstenção vividos no norte do Brasil.


Esse era o sonho dele, passear de norte a sul e não repetir lugares, assim como fiz por muito tempo. O dela era apenas estar novamente perto da família e poder descansar, onde quer quer fosse.


Ele sempre teve uma curiosidade pela França e um desejo de conhecer Paris. Ela, por um motivo que não sabe explicar, sempre teve o desejo de conhecer Coimbra, em Portugal.


Não, não somos descendentes de franceses e portugueses. Somos Souza da Silva, 100% brasileiros. Talvez tenhamos um pé lá na terra dos irmãos lusitanos, mas beeeemmmm lá longe, na

nossa vigésima geração, quem sabe. Talvez, essa nossa paixão pela vida internacional venha de outras vidas, vai saber.


Nesse tempo perto da família, uma ou outra viagem foi feita, geralmente para Caldas Novas, Ouro Preto ou outro lugar nos arredores de Belo Horizonte. Tudo sempre na companhia de mim ou do meu irmão, até que os passeios começaram a ser mais espaçados e a não acontecerem mais.


Uma nova rotina ficou estabelecida. As viagens eram sempre da casa deles à casa da minha avó, de um bairro a outro da cidade. Para isso, era desnecessário fazer malas, mochilas, preparar mapas, preparar roupas frio ou de praia.


Em mais de trinta anos morando no norte do país, eles jamais tiveram o prazer de viver o significado da frase que usei no início deste texto. Foram eles os Maomés da história que construíram longe de suas famílias. Foram eles a sempre regressarem para a casa dos pais no período de suas férias.


Em 2013, quando decidi morar na Irlanda, já vinha cantando essa pedra dentro de casa e avaliando qual seria a possibilidade deles virem me visitar. Meu pai, dando asas aos seus sonhos pós-aposentadoria, sempre esteve disposto a bater pernas pela Europa e pelo mundo. Minha mãe, com medo de avião, dos voos de infinitas horas e da distância, só me olhava sem acreditar que eu me mudaria e brincava dizendo que jamais viria me visitar.


Pois bem, em junho de 2013 eu me mudei. Um ano e quatro meses depois eu retornei para vê-los. Mas foram apenas 15 dias, muito corridos por sinal, e sem previsão de quando voltaria novamente.


O tempo foi passando, a saudade e a incerteza da minha volta aumentando, até que eles começaram a amadurecer a idéia de ter que vir até a mim se quisessem me ver com mais frequência. Afinal, minha vida aqui ainda não está estabilizada e por isso não posso me dar ao luxo de gastar mil euros para viajar e ficar duas semanas ou mais ausente do trabalho (sem receber).


O "Projeto Família Silva na Europa" estava destinado ao sucesso, mas levaria tempo para acontecer. Muita conversa seria necessária e o apoio do meu irmão essencial, uma vez que eu não estava mais lá. Seria a primeira viagem internacional deles e só teriam confiança para entrar naquele avião ao lado de alguém que já tivesse feito isso ou que no mínimo não fosse ter problemas de comunicação em outras terras.


Primeira tentativa


Planejei uma viagem a Portugal para abril, na tentativa de trazê-los com um casal de amigos que vieram de férias, também pela primeira vez na Europa.


A escolha do país era estratégico. Além da facilidade da língua, o voo direto de Belo Horizonte a Lisboa os eximiria de dores de cabeças com conexões antes de chegarem ao destino final. Uma coisa de cada vez, não é?


Comprei minhas passagens para aproveitar uma promoção e fiquei esperando que eles comprassem as deles. Mas ainda precisavam tirar os passaportes, processo feito tardiamente e que impossibilitou a vinda em abril.


Acabei viajando com meus amigos e tendo que planejar a vinda deles mais para o segundo semestre, uma vez que eu precisaria me reestruturar financeiramente e tirar novas férias para poder acompanhá-los.


Primeira surpresa


Numa madrugada de abril, estava trabalhando na casa de um de meus pacientes, quando recebo uma mensagem de Whatzapp do meu pai falando que eles tinham passagem compradas para vir a Portugal no dia 14 de junho.


Sem entender nada, conversei melhor com ele e vi que não se tratava de uma brincadeira. Meu irmão tiraria férias e faria uma viagem ao Velho Mundo, e como ele se dispôs a vir à Irlanda, meus pais viriam juntos.


Preparação


Desde o anúncio da viagem, iniciaram-se os preparativos para o grande dia. Eles já tinham os passaportes em mãos, compraram um seguro saúde, roupas de frio, malas, Euros e algumas muambas que pedi para trazerem para mim. Ainda, alugaram um carro para se locomoverem em Portugal e reservaram hotéis nas cidades por onde passariam.


Em Dublin, eles ficariam na minha casa, economizando então com hospedagem, que lhes custaria algo em torno de ¢800,00 para 4 noites, em um hotel próximo a minha casa.


Meu pai já trocava dia pela noite de tanta ansiedade. Minha mãe ainda estava apreensiva por causa de toda essa novidade e por ter que encarar o maior voo de sua vida.


Quem diria que eles um dia alçariam voos maiores desse jeito? Que aquele sonho que até pouco tempo era inatingível, agora tinha data e local para ser realizado? Que eles seriam as montanhas que mencionei na frase inicial desse texto, conhecendo minha casa mesmo que a milhares de quilômetros de distância da deles?


O sonho virou realidade. Do dia 14 ao dia 26 de junho, eles viajariam por Portugal e Irlanda. Mas desta vez, eu não poderia ir a Portugal encontrá-los em função do meu trabalho e da falta de tempo hábil para me planejar.


Infelizmente, eu teria apenas três dias e meio da companhia deles, que seria o tempo que estivessem em Dublin. De qualquer forma, era um sonho, não só deles, mas de todos que estavam ao redor, vivendo juntos aquela emoção.


Meu irmão montou o roteiro de viagem, no qual dei meus pitacos. Daí estava tudo pronto, era só embarcar e ser feliz.



Essa foto acima foi a primeira certeza que eu tive de que eles realmente viriam. Apesar dos passaportes tirados, das passagens compradas. Algo sempre pode acontecer aos 45 do segundo tempo, né?


A viagem


Bom, eles deixaram Belo Horizonte no dia 14 de junho rumo a Lisboa. Em terras portuguesas, começaram a trip pela capital portuguesa.


De posse do carro alugado, eles passaram ainda por Coimbra, Sintra, Fátima, Porto e Nazaré.


Lisboa, Portugal


Sintra, Portugal


Coimbra, Portugal


Nazaré, Portugal

Fátima, Portugal


Porto, Portugal


E na partida de Portugal para a Irlanda, eis que eles voaram pela primeira vez em uma low cost. O primeiro voo de Ryanair a gente nunca esquece.



Daqui em diante, eu já estava com eles e seria o guia na Ilha da Esmeralda.


Dublin


Em um de nossos passeios, andamos pela margem do Rio Liffey e alcançamos uma região nova de Dublin, próxima aos canais do porto da cidade. No fundo da foto, a ponte mais bonita da cidade, a Samuel Beckett, que tem formato de harpa.



Howth


Essa foto já contém meu primo, que chegou dois dias depois dos meus pais e meu irmão, e veio para morar em Dublin também.



Balanço Geral


O voo do Brasil à Europa, que achei que seria um pouco cansativo para minha mãe, foi extremamente tranquilo e confortável. Ela não sentiu dores nas costas nem nos joelhos, que era uma das minhas maiores preocupações.


Eles deixaram as malas deles no hotel de Lisboa e vieram a Dublin com uma mala de mão cada um, pois voaram de Ryanair e teriam problemas com a franquia de bagagem.


Por fim, meu pai pai já estava soltando uns "Come on", "Excuse me", "Sorry" para todos os lados por aqui. No entanto, para essa primeira viagem, foi essencial a presença do meu irmão e minha para ajudar na questão do idioma, na Irlanda pelo menos.


O "Projeto Família Silva na Europa" foi bem sucedido. Agora, todos estão inseridos no circuito internacional com muito louvor e satisfação. A conversa lá em casa não é outra senão Europa. Já estamos programando uma viagem à França e à Itália para o ano que vem, e desta vez, trazendo mais gente com eles para viver um pouco esse sonho que chama Europa.


Em um dos dias aqui em Dublin, meus amigos e eu tivemos uma grande fornada de Pães de Queijo bem mineiro, mas Made in Ireland, se é que você me entende. E cá para nós, estava sensacional!



Minha mãe realizou o sonho de conhecer Coimbra. Meu pai ainda não conheceu a charmosa Paris, o que é ótimo, pois serve de pretexto para voltarem.


Ambos deram muita sorte e conseguiram aproveitar um pouco do verão irlandês, que raramente faz sol. Bastou eles irem embora, a as chuvas e o tempo fechado voltaram a reinar por aqui.


Segunda surpresa


Meus pais voltaram para Belo Horizonte são e salvos e o que mais me deixou feliz é que eles não falam em outra coisa que não Europa, ha ha ha.


A vontade de voltar já é iminente e certa. Próxima Parada: França e Itália.


E assim eles entraram para as rotas internacionais, assim como eu e meu irmão.


Dicas úteis


Se seus pais forem fazer uma viagem longa, providencie meias compressivas para eles. Voos mais longos favorecem a formação de trombos nas pernas devido à falta de movimentação. Obviamente, oriente-os a se movimentarem no avião e a hidratarem bastante. Na dúvida, é bom evitar o consumo de bebidas alcoólicas durante os voos.


Se seus pais não tiverem muito pique para caminhadas, alugue um carro para transportá-los, pois vai tornar a viagem mais confortável.


A menos que eles sejam bem corajosos, para uma primeira viagem é bom que tenha uma pessoa experiente acompanhando na viagem, ou ao menos uma pessoa que seja pró-ativa.


Oriente-os com relação ao tamanho e peso de malas, principalmente se forem voar com empresas de baixo custo.


Se eles fizerem uso de alguma medicação controlada, sugiro fazer um check-up de rotina antes da viagem, pegar prescrições de medicação que precise para a viagem. Afinal, eles não vão querer ficar sem a medicação e nem serem suspeitos de tráfico de medicamentos.


Se seus pais tiverem 60 anos ou mais, não deixe de verificar as possibilidade de descontos em transporte público, museus, galerias, etc. Isso já ajuda a economizar alguns trocados.


Tire fotos, muitas fotos deles e com eles. Afinal, a experiência é única e inesquecível.


Parque Stephen's Green, Dublin


Grafton Street, Dublin

Minha mãe se divertindo com os artistas de rua


Trinity College, Dublin

Essa universidade é mais velha que o Brasil


Guinness Storehouse, Dublin

Entrada da fábrica da cerveja Guinness


Essa foi somente a primeira viagem e os primeiros carimbos no passaporte deles.


Que venham mais viagens! Que venha mais emoções! Por que o mundo agora é nosso!




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