Olá pessoal, cá estou novamente para finalizar esse post da validação de diploma com algumas novidades!
Vamos lá!
Decision Letter
Em fevereiro, recebi uma carta (Decision Letter) do conselho de enfermagem daqui da Irlanda (An Board Altranais ou Nurse and Midwifery Board of Ireland) falando que meus documentos haviam sido analisados e aprovados, mas que eu precisaria fazer um treinamento em um hospital público, que duraria entre 6 e 12 semanas. Leia essa história no post anterior, aqui.
Mal sabia eu que o processo estaria longe de terminar. Achei que a partir dessa carta, seria questão de tempo conseguir um hospital para fazer a adaptação, mesmo tendo ouvido sobre a longa fila de espera, afinal, meus contatos eram fortes e em tese ainda me ajudariam muito.
Mais enrolação
Bom, desde o início da procura por um hospital para fazer minha adaptação, percebi que depender do coordenador geral do programa seria perda de tempo. Então, eu teria que ir atrás de alguém que pudesse me ajudar com isso.
Entrei em contato com grandes empresas de recrutamento, como ele havia me orientado e tive respostas bastante imediatas.
A empresa de recrutamento CPL encontrou um asilo (Nursing Home) onde eu poderia começar o programa bem rápido. O grande porém que eu percebi e vim a confirmar mais tarde é que os asilos exigem um contrato de fidelidade de ao menos dois anos para poder aceitar um candidado para fazer a adaptação.
Diante da escassez de enfermeiros nos serviços de saúde do país, eles fazem essa "venda casada" para garantirem que você não vai apenas usá-los para ter seu registro e depois bater asas para ares longínquos.
Há quem goste, mas eu particularmente não me vejo em um asilo por dois anos, nem mesmo por meses. O trabalho é um tanto chato, nada desafiador e não é o tipo de enfermagem que eu gosto de exercer.
Enfim, fui levando a CPL em banho maria para tentar outras opções paralelas até conseguir um hospital.
Foi aí que percebi que fazer minha adaptação em um hospital seria praticamente impossível.
Minha chefe (da empresa The Care Team) entrou em contato com diversos amigos e enfermeiros que poderiam me ajudar e veja a seguir o que consegui:
1) Fui contratado por uma outra empresa de recrutamento (Servisource), que pertence à CPL. Tínhamos um acordo de que eu trabalharia como cuidador para eles por um tempo e eles conseguiriam minha adaptação em um hospital. Bom, comecei a trabalhar no Mater Misericordiae University Hospital como cuidador, enquanto aguardava eles resolverem as burocracias do meu treinamento lá.
Completou um mês que eu trabalhava lá religiosamente, de três a quatro vezes por semana, dando plantões de 12 horas, até que percebi que a empresa estava me usando como mão de obra para ganhar dinheiro e não iria me ajudar na adaptção. Sempre com o discurso de que as conversas com a diretoria do hospital estavam em andamento e que eu precisava trabalhar lá mais um pouco para criar uma reputação no hospital, minha paciência e ânimo iam minando.
Foi então que em certo momento eu fiquei sabendo de uma verdade que estava por trás de tudo e que ninguém havia me contado. A pessoa da agência Servisource, que estava em contato com o Mater Hospital, saiu de licensa maternidade e passou meu caso muito porcamente para quem iria tomar seu posto. Ainda, a pessoa do hospital, com quem a agência vinha conversando, também saiu de licensa e também não passou adiante o caso. O pior é que estava tudo certo para eu fazer minha adaptação lá mas as pessoas que ficaram responsáveis pelo caso vetaram meu processo, por motivos que não entendo até hoje.
Só vim saber da verdade dessa novela, por que eles contaram para a minha chefe, que me contou. Por fim, de mãos atadas e sem saberem o que fazer, tentaram apelar para todas as opções. E foi aí que me ofereceram a possibilidade de fazer a adaptação em um asilo, no sul da Irlanda, e depois ser contratado por um hospital, numa cidade lá perto. Obviamente, recusei a proposta.
Bom, tive que começar do zero de novo. No fim desse trâmite, que levou uns três meses, meu visto de estudante venceu e eu não o renovei, na espectativa de poder renovar com um de trabalho, mas que dependeria de começar a adaptação. E, por causa do visto vencido, a agência não me deu mais plantões como cuidador no hospital.
2) Uma terceira empresa de recrutamento (TTM), que apareceu no meio de tudo para me ajudar (novo contato da minha chefe), prometeu me dar a adaptação em uma clínica de diálise que estava recrutando enfermeiros. "Ótimo, agora vai", pensei. Uma nova conversa que durou alguns dias terminou em uma vaga para um asilo. A diálise? ah, eles não fazem adaptação de enfermeiros.
3) Uma quarta agência de recrutamento (Onwell) também apareceu na história. Muito solícitos, conseguiram me arrumar uma entrevista, a qual não aceitei fazer. Primeiro por que era para trabalhar em um asilo, outra por que teria aquele contrato de fidelidade longo além de não ser em Dublin. Uma das minhas metas é ficar em Dublin. Para sair daqui, prefiro mudar de país e tentar algo em outro lugar. De qualquer fora, deixei-os em standby.
4) Minha chefe, da empresa que trabalho desde que cheguei à Irlanda, continuou me ajudando arduamente e me arrumou uma entrevista no Beacon Renal, a unidade de diálise do hospital privado Beacon.
Desde o início a opção era suspeita, por que por ser privado, eles não podem fazer programas de adaptação para enfermeiros. Apesar disso, eles me falaram que fariam minha adaptação e me convidaram para a entrevista.
O saldo de tudo foi que eles ficaram impressionados com meu currículo e queriam muito me conhecer para quem sabe me persuadir a trabalhar com eles no futuro. Adaptação? "Não, infelizmente o Beacon não pode dar", disse a gerente do Recursos Humanos. Mais uma vez minha vontade foi de mandar um VTNC! Gastei dinheiro comprando terno e sapato para essa entrevista, para nada! As únicas coisas boas, foram as portas abertas que deixei lá e um dica que mais tarde veio a ser a melhor coisa a me acontecer.
5) Mais uma vez minha chefe e sua sócia entraram em ação. Dessa vez, conversando com o diretor geral da hospital privado Mater Misericordiae University Hospital, amigo delas. O rapaz ficou abismado com o fato de eu ainda não ter sido absorvido pelo hospital e se predispôs a ajudar. Como o hospital era privado, ele teria que conversar com seu colega do hospital público. Bom, em dois dias tive um convite formal para fazer uma entrevista lá.
Porém, o convite nunca passou de um e-mail em vão. Nunca tive resposta sobre a entrevista nem mesmo ao tentar telefonar para as pessoas responsáveis. A sensação é de que eles desistiram de mim ou algo tenha acontecido e eles simplesmente preferiram parar de conversar em vez de dar alguma satisfação.
6) Por último, já não sabia mais o que fazer e resolvi seguir uma dica dada ao fim da entrevista no Beacon Renal. Fui ao hospital público St. Vincent's deixar meu currículo. Procurei a sala dos enfermeiros (Nursing Office) e da assistente da diretora de enfermagem. Se tinha alguém para fazer isso dar certo, seria alguém de lá.
Sim, fui lá, esperei na frente das salas até poder conversar com alguém. E mais uma vez não fui correspondido. As pessoas nessas salas me mandaram para o RH. Achei que era fim da linha, mas como já estava no hospital, não custava ir ao RH e tentar a sorte. Deixei meu currículo com uma senhora e voltei para casa.
Três dias depois, recebi um contato por e-mail com a oferta de uma vaga para enfermeiro no hospital. Ao explicar que eu precisava fazer minha adaptação, tive a aplicação negada.
Via e-mail, dei uma chorada e expliquei minha situação. Falei que havia sido encaminhado ao RH pela assistente da diretora de enfermageme foi que aí a conversa tomou outro rumo.
Passei a conversar com a gerente do Recursos Humanos e tive em breve um convite para uma entrevista.
Bom, a entrevista foi há uma semana, e já tive a resposta de que fui aceito para realizar minhaadaptação no St. Vincent's University Hospital, bem como ter um cargo de enfermeiro em seguida.
Depois de cinco meses, eis que tudo deu certo e a novela que já dura dois anos terminou.
Desta vez, sem a ajuda direta de ninguém, por mérito próprio, consegui finalizar a validação do meu diploma.
O que ninguém te conta
Como vocês devem ter visto pelo enredo dessa novela para conseguir a adaptação de enfermagem, a oferta para fazer o programa em asilos é muito maior do que para fazer em hospitais. Várias agências recrutadoras se mostram muito solícitas a recolocá-lo no mercado. Cabe a você aceitar ou não.
O interessante é que existe uma jogada financeira por trás disso tudo. Quando uma agência dessas arruma uma vaga para você fazer uma adaptação, ela está trabalhando como um head hunter, ou caçador de talentos em bom português. Isso significa que o hospital ou o asilo precisa pagar uma taxa à agência por ter encontrado um enfermeiro (finding fee), que gira em torno de 5 a 10 mil euros por pessoa recolocada.
Por esse motivo, hospitais públicos tem muita resistência em aceitar candidatos referenciados por agências. Logo, essa história de que você não pode ir nos hospitais procurar pela adaptação, como o coordenador geral do programa havia me falado, é balela e parte de um esquema financeiro. Alguém sempre tem que sair ganhando, né...
Isso justifica os asilos fazerem contrato de fidelidade de dois anos com os enfermeiros. Assim, eles certificam de que o investimento pago pelo profissional vai ser retornado nos próximos dois anos com mão de obra qualificada.
Novidades
Preços
O processo para registro de enfermeiros na Irlanda sofreu algmas modificações recentes, a começar pelas taxas de serviço.
O processo administrativo que antes custava ¢200,00 agora custa ¢350,00. E a anuidade para o primeiro registro que antes era de ¢100,00 agora é de ¢145,00. Nos anos subsequentes, a anuidade passa a ser de ¢100,00 em vez dos antigos ¢50,00.
Adaptação
Ouvi recentemente que o coordenador geral do programa de adaptação irá deixar o cargo e ao mesmo tempo está havendo uma reformulação do sistema, para deixá-lo mais eficiente. No entanto, ainda não tenho conhecimento de que mudanças são essas.
Na minha opinião, eles deveriam no mínimo abrir o processo de adaptação para hospitais privados, o que aumentaria a oferta de vagas, diminuiria a lista de espera e não dependeriam tanto desses head hunters, já que a questão financeira pesa tanto. Mas teremos que esperar para vermos as cenas dos próximos capítulos.
Dicas
1 - O departamento de Recursos Humanos dos hospitais tem pilhas e pilhas de currículos parados, que eles nem olham. Além disso, eles tem também muito trabalho a fazer com os funcionários deles. Então, não perca seu tempo deixando currículo em sala de RH para fazer sua adaptação. Procure quem está no topo dessa cadeia e converse com quem decide as coisas >> Assistant Director of Nursing e Nursing Office <<
2 - Agências de recrutamento que eventuamente vierem a ajudá-lo vão certamente encontrar asilos para que você faça sua adaptação. O melhor caminho para conseguir um hospital é você procurar por conta própria seguindo a dica #1 acima.
The End
Hora de ser enfermeiro e ganhar dinheiro de verdade! Que venham os próximos desafios!
Perdeu os posts anteriores?
Leia-os aqui: