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Viajar não resolve seus problemas nem cura suas dores

Foi no dia 30 de junho de 2011. Após um extenso planejamento para minha primeira viagem internacional, deixei Belo Horizonte rumo à Europa pela primeira vez.

Naquele momento, eu vivia uma das maiores emoções da minha vida, que seria a realização do sonho de infância de viajar pelo mundo.

A felicidade era contagiante, diziam meus amigos.

Mas, paralelo a isso, eu vivia um enorme dilema. Tinha um relacionamento de dois anos com a mulher que sempre sonhei conhecer, casar e ter filhos, e, infelizmente esse relacionamento já estava um pouco minado por alguns erros de percurso, digamos assim - de ambos.

Ela me propôs terminarmos para eu aproveitar minha viagem, como se viajar fosse sinônimo de se envolver afetivamente, sexualmente ou algo do tipo com outra pessoa. Obviamente, disse não. E assim parti. Parti sem que ela me levasse ao aeroporto. Parti sem aquele brilho no olhar dela de felicidade pela minha felicidade. Parti com ela fechando o portão da sua casa como se fosse me ver no dia seguinte.

Foram 34 dias fora, viajando por cerca de 14 países com uma mochila nas costas, vivendo tudo que vi na televisão ou li nos livros de história. Seguro de sempre respeitar o relacionamento que me propus ter. Seguro de que um dia poderia viver aquilo lá com minha futura esposa.

Como marinheiro de primeira viagem fazendo mochilão solo num universo diferente, padeci com problemas de comunicação e fuso horário, por exemplo. Mal sabia eu naquela época o que era um jet lag, Lyca Mobile, Skype, entre outros. Mal sabia eu que escolher as redes sociais para postar fotos e ter conversas breves com ela, com amigos e família me gerariam ameaças de término a milhares de quilômetros de distância. Mal sabia eu que a mulher inteligente e madura – apesar dos seus 21 anos contra os meus 28 – se renderia a achismos, especulações de amigas e a um coração fragilizado.

No dia 4 de agosto, retornei para casa. Ainda com a mala para desfazer, contando os causos das viagem para meus pais, ela foi lá cumprir o protocolo e ver o namorado, ver as fotos da viagem, ouvir algumas histórias e iniciar o ritual de término.

(In)felizmente, naquele momento era o melhor para a gente e para a relação se ela tivesse que durar eternamente. Fui conivente. Falei o que eu pensava, o que eu sentia, minhas necessidades. Ela fez o mesmo. E assim terminou uma linda história que durou exatamente 2 anos, 1 mês e 29 dias.

Acreditem, a história não é tão simples como as letras acima tentam traduzir. Ela é regada de emoções, de amor, de sofrimento e de lágrimas.

Eu sou o tipo de homem que sofre por amor, mas também sou daqueles que se recupera rápido e está pronto para outra tentativa. Mas dessa vez o luto está durando muito tempo, mais do que eu achei que fosse durar.

Já faz três anos, os mesmos três anos que ela tem um outro namorado, que exatamente hoje se tornou noivo. Já faz dois anos que sofro em silêncio, tentando tocar minha vida pessoal e profissional.

Já são três anos de término, mais de trinta países no meu passaporte, muitas histórias para contar e muitos outros romances, afinal ninguém está nem aí para os nossos problemas e o mundo não pára para a gente se recuperar das nossas dores e lamentações. Pelo contrário, o mundo continua girando e a vida tende a bater mais ainda em você.

Como diria Martinho da Vila: nesse tempo “tive mulheres de todas as cores, do tipo atrevida, do tipo acanhada, do tipo vivida, casada carente, solteira feliz, já tive donzela e até meretriz”, mas que por obra da vida, também ficaram no passado.

Já são três anos percorrendo o mundo com uma mochila nas costas, sem rumo na vida, perdido dentro de mim mesmo, perdido dentro do mapa. Já faz um ano e meio morando em outro país, tentando fugir do que eu sinto e do que eu vejo acontecer a toda essa distância, buscando novos ares, novas vivências, mas sempre com aquela história mal resolvida circundando meus pensamentos onde quer que eu vá.

Eu muito honestamente não sei se eu sei o que é amor. Para mim, amor não tem definição, não tem fronteiras, não pode ser descrito, apenas sentido. Amor é relativo, mas também absoluto. Amor não faz sentido, mas é plural.

No meu caso, se isso é amor, é um amor que no momento a quer bem e feliz, mesmo que nos braços de outros abraços.

E assim eu sigo carimbando meu passaporte, não na expectativa de encontrar um outro alguém, mas na de que eu vou acordar e isso tudo terá sido só mais um daqueles sonhos que você se esquece no dia seguinte.

Viajar é muito bom, torna você mais humano, mais vivido, mais forte, mais você. Viajar me tornou melhor em vários aspectos, mas também me fez mais individualista e egoísta sob o aspecto do amor.

Tornou-me mais aberto para viver a vida de uma forma mais leve, mas infelizmente não o amor. Tornou-me mais criterioso, sensato e convicto do que eu não quero para mim e de que encontrar o que eu quero é como achar uma agulha no palheiro. Não por que procuro a perfeição, mas por que o mundo está de ponta cabeça e os valores estão todos invertidos em todo lugar. Fez-me ver que relacionamentos são absolutamente todos iguais, mudando apenas de endereços e idiomas.

Viajar me permitiu ver todos os tipos de relaciomentos que eu definitivamente não quero para mim e me fez perceber que o melhor deles era o que eu tinha antes de conhecer o mundo.

Hoje em dia, eu já acredito que é melhor viver sob certa ignorância, pois você vive melhor. E, para falar a verdade, viajar não resolve seus problemas nem cura suas dores. É só mais uma das fugas que o ser humano procura para amenizar a dor da realidade.


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