Istambul
Apesar das belezas arquitetônicas e maravilhosa cultura, a Turquia pode reservar ao turista algumas surpresas.
Quando estive em Istambul, fui constantemente abordado por locais que se faziam passar por turistas, sob o pretexto de quererem fazer amizade e por fim ir a algum bar tomar uma cerveja ou um chá e jogar conversa fora para no fim extorquir dinheiro deles.
Chega a ser impressionante as táticas que essas pessoas usam para fisgar suas presas e a frequência com que isso acontece.
Nunca nenhuma adversidade em viagem me deixou mais chateado como esta. Eu havia lido sobre o fato, sabia que isso aconteceria, consegui evitar por várias vezes, mas por fim acabei cedendo e caí no golpe que descreverei adiante.
O golpe
Cheguei a Istambul no entardecer do dia e imediatamente após deixar minha mala no albergue, saí para caminhar e conhecer a cidade. Após umas duas horas turistando, resolvi retornar para o albergue por uma rua mais erma que fica entre o Rio Bósforo e o Palácio Topkapi, onde não havia um ser vivo sequer, somente movimento de alguns poucos carros.
Muito próximo de alcançar um local mais movimentado, fui abordado por um homem de aproximadamente 40 anos em um carro de luxo, supostamente turista, que inicialmente me pedia informações sobre direções a afins.
Eu, como comunicador que sou (principalmente em viagens), rendi conversa, até que ela tomou o rumo que eu já conhecia não só da internet, mas de ter me acontecido pelo menos cinco vezes em duas horas de caminhada.
O rapaz, falso turista, convidou-me para tomar um drink em algum bar ali perto e eu prontamente recusei. Mas o indivíduo insistiu continuamente e começou a ser mais ríspido na forma de convidar. Eu fora do carro e ele dentro e aquela rispidez começou a me intimidar.
Por uma fração de segundo, veio-me na cabeça tudo que já vi na TV sobre países do oriente médio bem como sobre a própria Turquia no quesito violência. Pensei na possibilidade desse homem ter uma arma dentro do carro e tudo mais, e, após um certo embate entrei no carro dele e deixei que me conduzisse ao bar próximo do albergue. Ou era isso ou "se correr o bicho pega, se ficar o bicho come".
No fim das contas, o bar que inicialmente estaria a dois minutos de onde estávamos era bem mais longe do que o rapaz falara. Ele dirigiu para longe de onde estávamos e fomos parar em uma casa de pole dance, lap dance, strip tease ou o que quer que aquilo seja. Veio-me à mente a última novela da Globo que retratava o tráfico de mulheres para a Turquia, pois a cena foi exatamente a mesma.
Lembro-me como se fosse agora que a casa tinha dois andares. No andar debaixo, uns 8 seguranças com cara de serial killers (aparentemente sob efeito de álcool ou drogas) e no segundo andar a boate propriamente dita.
Mantive minha mochila nas costas, a calma e o raciocínio lógico (mesmo que tenha sido ilógico eu ter me metido ali). O rapaz queria pedir cervejas para nós e eu não deixei, alegando que eu não beberia. Quis pedir refrigerantes e mais uma vez eu neguei beber. Até que por fim dois copos de Coca-Cola e duas mulheres foram trazidas.
Acho que nunca neguei fogo como neguei esse dia, se é que vocês me entendem... Após algumas tentativas frutradas das "moças", meu "amigo" percebeu que eu não estava disposto a gastar dinheiro lá e resolveu elegantemente pedir a conta para que eu pudesse ir embora.
O garçom nos trouxe a bagatela de ¢260,00 por duas Coca-Colas não bebidas (isso mesmo, quase R$1000,00 por duas Coca-Colas!!) e duas mulheres não correspondidas (sei que você pensou bobeira aqui, haha). Senti-me obrigado a dividir a conta ou sabe lá Deus o que aconteceria, até mesmo por que falei que não tinha dinheiro e ele veementemente falou que eu teria que dividí-la.
Para piorar, eu só tinha ¢30,00 no bolso e nem diante da tentativa de dizer que não tinha dinheiro eu fui aliviado. Os funcioários da casa foram incisivos ao dizer que eu teria que pagar e seguranças conduziram outros dois rapazes visivelmente drogados até a mim para que fôssemos a um ATM sacar o resto do dinheiro.
Simplesmente, fiquei sem saber o que fazer. Se eu corresse, iriam me pegar na saída da casa. Se eu resolvesse brigar, estaria sozinho contra vários seguranças. Se eu dissesse que não ia pagar, poderia sofrer algum tipo de retalia. E nessas horas meu amigo, o estrangeiro é sempre o lado mais fraco da corda.
No carro, um deles tentou puxar conversa sobre o Brasil (esfriar os ânimos?), mandou abraço para o jogador Alex (ídolo na Turquia, pois jogou muitos anos no Fenerbahçe) e ainda me ofereceu carona até um ponto de taxi após ter o resto do dinheiro em mãos. Obviamente fui menos inocente e não aceitei, pois poderiam me levar para mais longe do que já estava.
No fim da história, de bolsos vazios, andei cerca de quatro horas (do aeroporto de Ataturk até a cidade Velha), chegando no albergue por volta de 2h da manhã, extremamente cansado e chateado. E esse era só meu primeiro dia no país.
Mas bem, a lição foi aprendida, e vi que às vezes é preciso ser mal educado com as pessoas, ainda mais com gente chata e insistente!
Se meu conselho for útil, não recomendo nem homens nem mulheres viajarem à Turquia sozinhos, principalmente mulheres por causa da cultura em torno do homem que impera por lá. Se ainda sim quiserem fazê-lo, sejam firmes e mais maldosos que eu fui para não caírem na mesma cilada. Não se deixem vencer pela insistência dos locais, pois esse é o negócio deles.
Falaram-me que os golpistas jamais vão agredi-lo fisicamente ou roubá-lo em locais públicos, em função do vigor das leis por lá e por este motivo eles tentam aliciar as pessoas. Ainda assim, não vale o risco.
Previna-se, cuide-se e curta sua viagem!